Lições do Covid: sites são importantes, oras!

Yasodara Cordova
5 min readApr 28, 2020

A pandemia está mostrando a governos do mundo todo que existe uma peça principal na transformação digital no meio de tanta tecnologia: o website. Peça simples, negligenciada em tempos comuns, é uma ferramenta importante para compartilhar informações com o maior número de pessoas possível e servir, ao mesmo tempo, de “casa digital” das instituições.

Photo by Hal Gatewood on Unsplash

O formato web é o mais inclusivo de todos os formatos da Internet. Se bem feito, um website pode carregar muito mais rápido as informações urgentes que os cidadãos precisam, sem gastar internet para fazer download de aplicativos, ou tempo registrando formulários de entrada. Além disso, erros de versão, como quando por exemplo o aplicativo não está disponível para modelos mais antigos de celulares, não acontecem com o website, que é uma versão só, válida pra todo mundo, atualizada quase em tempo real.

A outra vantagem do website é que ele acomoda vários tipos de mídia, fornecendo caminhos para que o cidadão possa encontrar o que precisa em um único lugar. Ir a um website é como caminhar até o prédio da instituição. A busca é o atendente que ajuda o cidadão a encontrar onde ele precisa ir. Em tempos de distanciamento social, o website é, literalmente, o “prédio” do governo pra onde o cidadão tem que se dirigir.

Sites são facilmente indexados pelas ferramentas de busca. Seu app, não. Seu perfil do Facebook também não, muito menos seus posts no Instagram ou no WhatsApp. Os sites são respositórios de informação, documentando e deixando disponíveis as informações mais básicas, tão essenciais agora, em tempos de covid.

Mas o que é preciso para construir um website que funcione?

Existem guias e guias na internet, então, se você precisa construir um bom website, o buscador é o seu melhor amigo. Para facilitar o trabalho, tenha em mente que você vai precisar de um time com conhecimentos nas três áreas que listo abaixo:

  1. Gestão de conteúdo

As pessoas que farão a gestão do conteúdo do site podem também pensar em todas as redes sociais e mídias que estarão presentes ali. Uma estratégia simples é listar as histórias importantes que o site quer contar e alinhar todas as peças pra todas as mídias com o local do site onde a história vai ser mostrada. Ajuda também a combater a desinformação. Quem vai fazer gestão de conteúdo também precisa pensar nas hashtags e palavras-chave mais buscadas pelas pessoas, além de alinhar com rádio e TV. Se fizer campanhas em chat ou via USSD, inclua-as em histórias também. Está tudo conectado.

2. Design + patterns & standards

O pessoal que vai fazer a interface precisa estar sempre fazendo análise dos dados do site. Como as pessoas clicam, de onde estão chegando, se clicam onde você quer que elas cliquem, quanto tempo ficam na página e até pra onde estão olhando quando navegam no site. Essas, e outras informações, serão úteis até pra colocar os menus em locais adequados, incentivando as pessoas a percorrerem todo o caminho da informação.

É importante que o designer conheça padrões que tenham sido testadas antes. Inventar a roda só se você tiver investimento e tempo para fazer testes com usuários. Muita pesquisa já foi feita e a maioria dos frameworks incorpora padrões que já estão otimizados para a melhor utilizacão do site. Dica: o gabinete digital da Inglaterra tem um site que oferece elementos já consagrados de graça, aqui.

3. Sistemas de gestão de conteúdo (o vulgo backend)

Não vou descrever formação profissional, porque já vi muito jornalista sendo web designer, muito designer sendo backend, muito engenheiro fazendo conteúdo. Mas é importante que todos do time se sintam confortáveis pra subir conteúdos pro site pelo admin, de maneira que as tarefas de publicação não fiquem exclusivamente na mão de uma pessoa. Essa situação é gargalo. É também importante que o backend seja otimizado pra que o site carregue da forma mais rápida possível, considerando que o povo tem que pagar a internet pra acessar o site. Por último, quem vai subir conteúdo também é usuário, então o backend precisa ser FÁCIL DE USAR. Existem zilhões de gerenciadores de conteúdo, sendo o mais famoso e mais utilizado o WordPress, que é bom para lançar primeiras versões ou hotsites, péssimo para o longo prazo, dependendo do seu site. Isso porque pode se tornar um repositório de penduricalhos. Se o seu site tem que durar 5, 10 anos, considere outros gerenciadores de conteúdo, mas pense bem antes de fazer um do zero. Existem vários outros de código aberto que são ótimos e tem comunidades prontas com gente dosponível para sere contratada, caso você precise de reforço.

Ferramentas pro time:

O mais importante é que o time se conheça bem (em termos de habilidades) e também tenha uma casa virtual pra compartilhar artigos e comunicação — pra além do email, e compartilhe uma agenda com as tarefas. Abaixo comento mais sobre isso.

Versionamento:

Esse é um elemento crítico: emails criam threads infinitas e se perdem no meio da enxurrada diária. Serve grupo de zap? Não. Porque o grupo de zap não ajuda no versionamento de arquivos, coisa crítica quando se está trabalhando com equipes reduzidas. Portanto, tente usar git (GitLab ou Github tem interfaces muito boas) ou no mínimo um dropbox, drive ou qualquer outro local seguro que te ajude a: listar arquivos por data e o nome e email de quem subiu, dando acesso à todos os envolvidos.

Controle de tarefas compartilhado:

Use uma planilha compartilhada pra listar tarefas, responsáveis e prazos. Se quiser aprimorar um pouco, tem várias ferramentas, sendo o trello a mais famosa, que ajudam a fazer isso de uma maneira bem sofisticada. Uma dica se você tiver menos de 3 pessoas no time e ninguém saiba usar o trello: faça uma planilha simples, pense em implementar o trello depois que subirem a primeira versão do site.

Tenha objetivos pro seu site:

A parte mais importante aqui é ter objetivos pro seu site. Um objetivo geral, e sub-objetivos para cada parte do site. Vejo muitos sites de governo que tem uma barra de entrada e várias notícias, sendo que a parte de serviços fica escondida dentro de vários menus. O objetivo do político pode ser difundir notícias, mas o objetivo do site de governo não pode ser promover o político. Objetivos de sites de governo tem que ser voltados para o cidadão, então comece pensando como se tivesse construindo um prédio, e se faça a pergunta:

“O que vou oferecer nesse site que vai fazer o cidadão “sair de casa”?”

Você acredita que alguém sairia de casa para ler notícias sobre um ministro? Ou será que essas pessoas se deslocariam para descobrir quais os passos do recebimento de ajuda do governo, por exemplo? Amotivação do usuário para visitar o seu site é importante, e você precisa medir essa motivação para saber se o site apresenta o que o usuário quer.

Daria pra escrever um livro inteiro sobre o assunto — coisa que não vou fazer aqui no Medium. O recado que eu queria deixar é: se você está na equipe de desenvolvimento de sites de uma instituição pública, e essa instituição tem um papel importante na era Covid, esqueça os apps e drones: se concentre na informação entregue do modo mais simples possível, da maneira mais ágil pra maior quantidade de pessoas.

Fazer o básico, nesse caso, é inovar, dependendo de onde você está e de que ponto está partindo: fazer o que quase ninguém tá fazendo.

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Yasodara Cordova

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